Ciclo John Cassavetes – O Verdadeiro Rebelde | 5 filmes em cópias restauradas para ver a partir de 21 de Julho

John Cassavetes regressa ao grande ecrã dia 21 de Julho: 5 obras em cópia restauradas para ver no Cinema Nimas e no Teatro Campo Alegre.

A partir de 21 de Julho, um novo grande acontecimento cinéfilo nas salas portuguesas. Depois da operação Cassavetes levada a cabo pela Atalanta Filmes nos anos 1990, cinco obras-primas de John Cassavetes estão de novo nas salas de cinema, lançadas pela Leopardo Filmes, agora em cópias digitais restauradasSombras, Rostos, Uma Mulher Sob Influência, A Morte de um Apostador Chinês e Noite de Estreia. Nos cinemas Medeia Nimas, em Lisboa, e Teatro Campo Alegre, no Porto, no cinema Trindade, também no Porto, e ainda, mais tarde, no Auditório Charlot em Setúbal, no TAGV em Coimbra, no Theatro Circo de Braga e no CAE da Figueira da Foz.


No cinema Nimas, em Lisboa, decorrerão ainda sessões especiais e únicas de outras obras maiores do realizador: Maridos, Minnie and Moskowitz – Tempo de Amar, Gloria e Love Streams – Amantes.


John Cassavetes, realizador, argumentista, actor, dramaturgo e encenador, é o “pai” do cinema independente e influenciou (e continua a influenciar) um sem número de realizadores no mundo inteiro, entre os quais Peter Bogdanovich, Martin Scorsese, Jean Eustache, Maurice Pialat, Jacques Rivette ou Ryusuke Hamaguchi. Alguns dos seus filmes foram antes peças de teatro (Rostos, Uma Mulher sob Influência, Noite de Estreia) e mesmo Sombras partiu de improvisações a partir de um workshop com actores. Cassavetes era um realizador “que amava os actores” e a forma como trabalhava com eles foi marca decisiva e distintiva da sua obra. Quando vemos os seus filmes vemos o respeito e a forma como defendia com fervor os seus personagens falhados. Por seu lado, Peter Bogdanovich chamou-lhe um revolucionário, e realçou o aspecto político da sua obra, algo que, como escreve Jonathan Rosenbaum, nem sempre foi bem compreendido.


«John Cassavetes – o verdadeiro rebelde». Ontem, como hoje.


Programa Ciclo John Cassavetes – O Verdadeiro Rebelde Completo


CARTA ABERTA A JOHN CASSAVETES, POR JIM JARMUSCH


Há algo de especial que sinto momentos antes de ver os teus filmes – uma expectativa. Não importa se vi o filme anteriormente ou não (acho que já os vi todos umas quantas vezes), ainda tenho esse sentimento. Espero por algo que pareço desesperadamente desejar, uma espécie de elucidação. Como cinéfilo ou como cineasta (para mim já não parece existir uma divisão clara entre os dois) antecipo uma rajada de inspiração. Quero elucidação formal. Preciso que me sejam reveladas as consequências de um jump-cut. Quero saber como a crueza dos ângulos da câmara ou do grão da película figuram na equação emocional. Quero aprender sobre a representação através das interpretações, sobre os ambientes através da luz e dos locais. Estou pronto, completamente preparado para assimilar “a verdade a vinte e quatro frames por segundo.”


Mas a questão é esta: assim que o filme começa e me apresenta o seu mundo, perco-me. A expectativa daquela elucidação particular evapora-se. Deixa-me lá, sozinho no escuro. O mundo dentro da tela é agora habitado por humanos. Também parecem perdidos, sozinhos. Olho-os. Observo cada pormenor dos seus movimentos, das suas expressões, das suas reacções. Oiço atentamente aquilo que dizem, os contornos desgastados do tom de voz de um, a malícia disfarçada no ritmo oral de outro. Já não estou a pensar em representação. Estou desatento ao “diálogo”. Esqueci a câmara.


A elucidação que antecipava é substituída por outra. Esta não convida à análise ou à dissecação, apenas à observação e à intuição. Em vez das revelações sobre, por exemplo, a construção de uma cena, vou ficando elucidado acerca das subtis nuances da natureza humana.


Os teus filmes são sobre o amor, a confiança e a desconfiança, o isolamento, a alegria, a tristeza, o êxtase e a estupidez. São sobre a inquietação, a embriaguez, a resiliência e o desejo, sobre o humor, a teimosia, as falhas de comunicação e o medo. Mas acima de tudo são sobre o amor e levam-nos a um sítio mais profundo do que qualquer estudo da “forma narrativa”. Sim, és um grande cineasta, um dos meus favoritos. Mas aquilo que os teus filmes iluminam de forma mais comovente é que a película é uma coisa e a beleza, a estranheza e a complexidade da experiência humana são outra.


John Cassavetes, tiro-te o chapéu. E seguro-o sobre o meu coração.


Programa Ciclo John Cassavetes – O Verdadeiro Rebelde Completo

A partir de 21 de Julho, nos cinemas