Estreias da semana | O que vemos quando olhamos para o céu?, Cordeiro e o regresso de Éric Rohmer

O ciclo Éric Rohmer ou o Génio do Moderno Cinema Francês regressa com os Contos das Quatro Estações, em cópias restauradas; estreia-se o novo filme de Alexandre Koberidze, O que vemos quando olhamos para o céu? e Cordeiro, de Valdimar Jóhannsson. Tudo a partir desta quinta-feira.

Profundamente ancorados nos anos 1990, mesmo que se adivinhe a influência capital de La Bruyère, os “Contos das Quatro Estações” (1990-1998: Conto de Primavera, Conto de Inverno, Conto de Verão, Conto de Outono) preservam o charme fora de moda e inimitável dos diálogos do cinema de Éric Rohmer, que continua a defender aqui a utilização do som directo. A utilização parcimoniosa da música, geralmente composta por Jean-Luis Valero, fica enriquecida com a aparição, no genérico, do compositor Sébastien Erms, outro heterónimo do autor, em fusão com o nome da montadora Mary Stephen, que também participa na composição. Este último ciclo, centrado naquilo que faz e desfaz os laços entre as pessoas, ressoa com o conjunto da obra e ilumina-o: os sincronismos, os encontros capitais, as cumplicidades espontâneas, o amor à primeira vista. O espectador é atraído pelo jogo de palavras de personagens complexas que mentem, ou se mentem a si próprias, contradizendo-se constantemente. Há duas personagens muito fortes, que se destacam: Melville Poupoud no Verão, interpretando um jovem com um magnetismo sedutor que se deixa conduzir pelo acaso, e Charlotte Véry, uma das personagens mais grandiosas de todo o panteão rohmeriano, a exasperante sedutora do Inverno que faz a aposta absoluta do amor. Gabriela Trujillo [Cinémathèque Française]


A partir de hoje, quatro clássicos de Éric Rohmer para ver em cópias restauradas: Os Contos das Quatro Estações marcam o regresso do ciclo Éric Rohmer ou o Génio do Moderno Cinema Francês. Conto de PrimaveraConto de InvernoConto de Verão e Conto de Outono, para ver no Cinema Nimas, em Lisboa e no Teatro Campo Alegre, no Porto.


O Que Vemos Quando Olhamos Para o Céu? é uma comédia romântica georgiana, fábula e declaração de amor ao cinema e à vida, e foi uma das surpresas do festival de Berlim no ano passado. Tal como acontece com o par da história, teve um coup de foudre com a crítica internacional. A poesia do quotidiano, o acaso (sem se conhecerem, Lisa e Giorgi chocam à porta de uma escola. Um livro cai no chão. Visivelmente atordoados, marcam um encontro sem terem sequer dito os seus nomes. É amor à primeira vista…), uma grande inventividade e fantasia (como que encantadas, as coisas começam a ganhar vida: a câmara de vigilância é um mau-olhado, o cano de esgoto um oráculo; há cães que adoram futebol), a frescura no olhar e um discreto charme estabelecem um pacto mágico com o espectador. 


Um filme para descobrir no grande ecrã, em três sessões únicas, no Cinema Nimas, em Lisboa.


Cordeiro: esta surpreendente fábula moral e catártica, de uma beleza de cortar a respiração, enfeitiça-nos como um conto nórdico. Trata-se da premiada primeira longa do islandês Valdimar Jóhannsson, filmada em décors naturais no meio de montanhas brumosas na Islândia rural, que nos inquietam tanto como aquelas personagens praticamente isoladas (Noomi Rapaci é extraordinária na sua simplicidade e contenção), o que delas sabemos e vemos pelas suas rotinas, o que delas ignoramos e têm escondido dentro de si. Entre o suspense e o maravilhoso, o real e o fantástico, Jóhannsson tem uma grande mestria formal, que faz de Cordeiro um filme único. E uma experiência fascinante.


Para ver no Cinema Nimas, em Lisboa, em três sessões únicas.