Nova cópia restaurada de O HERÓI SACRÍLEGO, de Kenji Mizoguchi, no regresso do Mestre japonês aos cinemas. Conversa com João Mário Grilo

É já no próximo dia 23 de Abril que poderemos ver o extraordinário restauro digital de O HERÓI SACRÍLEGO, o segundo dos dois filmes a cores de Mizoguchi, o penúltimo da sua filmografia.

Conta-nos João Bénard da Costa que foi um dos raros filmes de Mizoguchi estreados comercialmente em Portugal, em 1973, quase vinte anos volvidos sobre a sua estreia. Vimo-lo primeiro no festival da Figueira da Foz, e depois, em Lisboa, na estreia comercial, onde foi, no entanto, relegado para as sessões da meia-noite, no cinema Estúdio, passando de certa forma despercebido. O que não terá acontecido por acaso.


Esta história passada no Japão medieval, com o poder dividido e a ameaça da guerra, é um dos filmes de maior comprometimento político do cineasta, e a censura ainda existente (a Revolução de Abril chegaria 6 meses depois) quis até cortar no final o discurso deste herói sacrílego, acabando por deixá-lo ficar, mas eliminando a sua tradução.


Outra das grandes razões para ver este filme, uma das suas “obras de antologia”, é a forma como Mizoguchi utiliza a paleta de cores, as suas tonalidades, as alterações e gradações, elas próprias acrescentando ou confirmando um sentido ao desenrolar da acção, às várias personagens e acontecimentos, reforçando uma “ambiguidade significativa em que reside muito do seu fascínio” (J.B.C).


O Herói Sacrílego regressa aos cinemas portugueses 50 anos depois, liberto da censura, num restauro exemplar e na sua plenitude. Na sessão de 23 de Abril, às 19h, no cinema Medeia Nimas, a projecção será seguida de uma conversa com o cineasta, professor e ensaísta João Mário Grilo, sobre o filme e a obra de Mizoguchi, que, como escreveu Jean Douchet, “está para o cinema como Bach para a música, Shakespeare para a literatura e Tiziano para a pintura. É o maior.


Sessão Especial

Terça, 23 Abril, 19h — Cinema Medeia Nimas

Projecção seguida de conversa com João Mário Grilo


“O filme conta a história do filho de um samurai que, tendo tomado consciência da sua força e da sua qualidade, não suporta ser tido como inferior.

Este filme, um dos mais complexos e mais ricos de Mizoguchi, dá-nos mais do que qualquer outro, mais do que  , que de certa forma aprofunda, a concepção humanista do cineasta. Tudo é permitido ao homem, que é o seu próprio deus, desde que combata sem tréguas os medos e as mentiras que o subjugam.”

— Jean Douchet, Mizoguchi, Connaissance du cinéma

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