Estreias da semana | A FILHA PERDIDA, O PROFESSOR BACHMANN E A SUA TURMA e DESCERRANDO OS PUNHOS

A FILHA PERDIDA, de Maggie Gyllenhaal, O PROFESSOR BACHMANN E A SUA TURMA, de Maria Speth, e DESCERRANDO OS PUNHOS, de Kira Kovalenko, chegam esta quinta-feira ao grande ecrã.

Leda (Olivia Colman, admirável), uma solitária professora de Inglês, decide passar férias numa vila costeira no sul de Itália, onde poderá descansar tranquilamente. O seu sossego acaba, porém, com a entrada em cena de uma família de desconhecidos. Obcecada pela jovem mãe (Dakota Johnson, na melhor interpretação da sua carreira) e pela sua filha, ao observá-las na praia, Leda reaviva as suas próprias memórias traumáticas das escolhas que fizera também enquanto jovem mãe e as suas consequências.

Primeira obra atrás das câmaras de Maggie Gyllenhaal, que mostra um irrepreensível virtuosismo formal e narrativo e uma voz singular, A Filha Perdida é uma adaptação ousada, com as emoções à flor da pele, do romance homónimo de Elena Ferrante, no qual a realizadora afirma ter-se encontrado com uma parte secreta da sua experiência enquanto mãe, amante e mulher.


Para ver no Cinema Nimas, em Lisboa, e no Cinema Charlot, em Setúbal, diariamente, e no TAGV de Coimbra numa sessão única.


Numa cidade alemã com uma história complexa no que concerne à integração e exclusão de imigrantes, Dieter Bachmann é o professor de uma turma composta por alunos com idades entre os 12 e os 14 anos, oriundos de uma dezena de países diferentes (Cazaquistão, Bulgária, Marrocos, Turquia...), e que ainda não dominam a língua alemã. Bachmann, quase a terminar a sua carreira, está empenhado em inspirar estes cidadãos-em-construção com o sentido de curiosidade necessário para que possam desenvolver um vasto conjunto de saberes, disciplinas, culturas e opiniões. O Professor Bachmann e a sua Turma parte da pergunta sobre “onde nos sentimos em casa” para fazer um elogio ao poder da educação e à educação enquanto poder.


Foi um dos acontecimentos que marcaram a última edição do Festival de Berlim, de onde saiu com o Prémio do Júri. A crítica considera-o uma obra-prima do documentário.


«(…) A atitude de Dieter Bachmann com os seus alunos está carregada de uma grande proximidade emocional: sem preconceitos, sem ressentimentos, amigável, benevolente e acima de tudo muito pessoal. Ele não se esconde no papel de professor, mostra-se com todas as suas forças e fraquezas, como pessoa inteira. Empenha todas as suas competências para abrir possibilidades e criar um ambiente onde todos sintam que se podem verdadeiramente mostrar. A sala de aula como uma espécie de sala de estar. Mas, acima de tudo, como lugar de confiança, onde tudo o que vai na alma dos alunos e alunas pode ser discutido.»

Maria Speth em entrevista a João Lopes, Diário de Notícias


Um filme fundamental, que todos deviam ver, em exibição diariamente no Cinema Nimas, em Lisboa, e no Teatro Campo Alegre, no Porto. Conta ainda com exibições especiais no TAGV de Coimbra, no CAE da Figueira da Foz e no Theatro Circo de Braga.


Numa antiga cidade mineira da Ossétia do Norte, Ada (Milana Aguzarova, numa composição brilhante), uma sobrevivente do cerco a uma escola em Beslan, em 2004, levado a cabo por chechenos que exigiam a retirada da Rússia do seu país, é mantida numa redoma sob o controlo excessivo do seu pai. Ainda a recuperar do trauma causado pelo ataque, Ada procura escapar ao domínio sufocante da família que ama tanto quanto rejeita.


Descerrando os Punhos, a segunda longa-metragem de Kira Kovalenko, que com Kantemir Balagov se tornou uma das vozes mais promissoras de um novo cinema russo (estudaram ambos no Atelier de Cinema de Aleksandr Sokurov) venceu o prémio Un Certain Regard no festival de Cannes. Com uma câmara ágil e a fotografia saturada de Pavel Fomintsev, que reflecte os estados de alma de Ada, Kovalenko desafia o nosso olhar com uma obra sobre o fardo da memória, a possibilidade (ou não) da reconciliação com o trauma e o impulso de liberdade.


Para ver no Cinema Nimas, em Lisboa, e no Teatro Campo Alegre, no Porto. Exibe no TAGV de Coimbra numa sessão única.