Stanley Kubrick em 4K: o grande destaque de fim de ano no Teatro Campo Alegre

O ano cinematográfico no Porto encerra em estado de assombro no Teatro Campo Alegre. Nesta época de festas, para além da estreia de NA TERRA DOS NOSSOS IRMÃOS e a sessão única de LAGUNA, a programação de fim de ano da sala Medeia concentra-se em duas obras-primas absolutas de Stanley Kubrick, apresentadas em novas cópias digitalmente restauradas em 4K. 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO e BARRY LYNDON surgem como um gesto final de grandeza, convocando o cinema como experiência sensorial, histórica e total.

Estreado em 1968, 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO é uma das obras mais influentes do cinema moderno e aquela que melhor condensa toda a filmografia de Kubrick, contendo o seu cinema anterior e antecipando o posterior. Partindo de um conto de Arthur C. Clarke, The Sentinel, que deu origem a um argumento escrito em colaboração com o realizador, o filme acompanha uma viagem a Júpiter após a descoberta de um monólito alienígena que parece afectar a evolução humana.


Revolucionário nos seus efeitos especiais, assinados por Douglas Trumbull, 2001 redefiniu a ficção científica e propôs uma experiência essencialmente sensorial, não verbal, onde a imagem e o som substituem a explicação. Como escreveu Enrico Ghezzi, o filme abriu no ecrã uma profundidade absoluta, devolvendo ao espectador o prazer fílmico primigénio.


O próprio Kubrick descreveu-o como uma experiência poética e filosófica que actua ao nível do subconsciente, como a música ou a pintura. No Campo Alegre, o filme é exibido em cópia 4K nas sessões de quinta-feira, 18 de Dezembro, e sexta-feira, 19 de Dezembro, às 21h; no sábado, 20, e no domingo, 21, às 15h30 e 21h; e ainda na segunda-feira, 22, e terça-feira, 23, às 21h.


Segue-se BARRY LYNDON, obra-prima de 1975 que regressa ao grande ecrã no ano do seu 50.º aniversário. Adaptado de Thackeray, o filme acompanha a trajectória de um aventureiro do século XVIII que procura a ascensão social a qualquer custo, através do sexo, da guerra e do jogo. Kubrick constrói aqui um realismo de rigor extremo, sustentado por fabulosos décors e figurinos, distinguidos com Óscares, e por uma fotografia prodigiosa de John Alcott. Recorrendo a lentes Zeiss especialmente aperfeiçoadas, os interiores iluminados apenas por velas recriam a luz da grande pintura europeia do século oitocentista.


A banda musical, escolhida meticulosamente pelo realizador, tem na Sarabande de Händel o seu leitmotiv solene. Como afirmou Kubrick, não importa o inesperado, mas a forma como tudo acontece. BARRY LYNDON pode ser visto no Campo Alegre nas sessões de sexta-feira, 26 de Dezembro, às 20h30; no sábado, 27, às 15h30 e 20h30; no domingo, 28, às 15h30; e na segunda-feira, 29, e terça-feira, 30, às 20h30.


Com estas duas projecções, o Teatro Campo Alegre encerra o ano com um programa que devolve ao cinema a sua dimensão de arte maior, pensada para a sala escura e para o tempo longo da contemplação. Kubrick, no fim do ano, como quem fecha um ciclo com assombro e precisão.


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