Ciclo "Jacques Demy"

26.12 19.02

Cinema Medeia Nimas - Lisboa

"Querer a felicidade é já um pouco de felicidade." — Jacques Demy


Os filmes de Jacques Demy de novo nos cinemas, a partir de 26 de Dezembro. 

Cópias digitais restauradas.


Re-descobrir Demy

Celebram-se este ano os 60 anos de Os Chapéus de Chuva de Cherburgo, uma das várias obras-primas de Jacques Demy (1931 – 1990), e que foi objecto de cuidadoso restauro 4K apresentado no festival Il Cinema Ritrovato, em Bolonha, por Damien Chazelle. Nas últimas décadas, novas gerações descobriram a obra do cineasta e os seus filmes resistiram ao tempo, continuam vivos, e são objecto de novas leituras e reapropriações. A sua influência vai para além do cinema e chega, por exemplo, à música (não esqueçamos que o grande Michel Legrand esteve sempre à sua beira), à moda e ao design. É por isso tempo de “re-descobrir Demy”, e dar a vê-lo num ciclo praticamente integral, descobrir filmes menos vistos e que são verdadeiras pérolas, em cópias restauradas e com vários inéditos nos cinemas portugueses.


Jacques Demy por Jean Douchet

Conheci Demy em 1956-1957, a seguir a ele ter feito O Tamanqueiro do Vale do Loire, e antes de rodar O Belo Indiferente. Foi a partir daí que nos ligou uma amizade duradoura. Gostava muito de o encontrar, de falar com ele. Tínhamos uma grande camaradagem e acho que para A Baía dos Anjos se inspirou um pouco em mim, no meu interesse, digamos “excessivo”, por uma certa época, pelos jogos de roleta e pelos casinos.

Ele tinha uma grande gentileza na sua relação com os outros. Era gentil, mas muito bretão: assim que metia uma coisa na cabeça, não valia a pena tentar que mudasse de opinião! Tinha ideias precisas e não abdicava delas. O que tinha muita força, já que a sua gentileza nos fazia crer que poderíamos influenciá-lo. O que se vê na sua forma de conceber o cinema, de tratar um assunto. E sente-se também: é um cinema feito a partir de a priori muito fortes e que ele trabalha.

Com O Tamanqueiro do Vale do Loire, um documentário admirável, não estava de modo nenhum no espirito dito da “Nouvelle Vague”. Com efeito, ele torna-se incontestavelmente Nouvelle Vague quando passa à ficção com O Belo Indiferente. É verdade que se trata de uma peça de Cocteau, mas ele filma-a escolhendo a opção estética muito Nouvelle Vague de uma peça de teatro filmada enquanto tal, sem procurar fazer uma ficção de cinema. O décor – o papel de parede vermelho, as cores vivas – e a sua artificialidade são filmados como uma realidade. Mesmo se ainda estivesse a experimentar, sentíamos que Demy seria um verdadeiro metteur en scène que imporia, suavemente, é verdade, um imaginário e um estilo próprio. Mas ainda estávamos longe de imaginar que um dia ele faria de uma cidade o décor de As Donzelas de Rochefort, fazendo re-pintar 40 000 m2 de fachadas!

Eu disse algures que Demy era “o mais metteur en scène dos metteurs en scène franceses” do seu tempo. Ele está, de facto, próximo de Minnelli, e partilha o mesmo interesse pela oposição entre o sonho e a realidade, o décor como emanação tanto do sonho como da realidade. Com A Princesa com Pele de Burro, o Tocador de FlautaLola ou As Donzelas de Rochefort, tal como Minnelli, está no domínio do encantamento, do maravilhoso. Mas o cinema de Minnelli trabalha o domínio do fantástico próprio do romantismo do séc XIX, isto é, a ideia de um mundo que existiria ao lado ou do lado de lá do real, e que vampirizaria mesmo o real. Demy interessa-se mais pelo maravilhoso como era concebido no século XVII, um maravilhoso fabricado pelo homem, pelas suas máquinas. Este maravilhoso, é também a maquinaria do mundo, os carrocéis de feira que se instalam no início de As Donzelas de Rochefort por exemplo, como a maquinaria do cinema, os movimentos de câmara, dos travellings ou de grua, a maquinação dos décors e das suas cores. É também o maravilhoso das intrigas, as maquinações dramáticas à base dos acasos e dos encontros. Nos dois casos, Minnelli e Demy, o cinema assenta sobre o espectáculo. 


22.01.2025
quarta-feira
19:00
  1. O Tamanqueiro do Vale do Loire

    de Jacques Demy
    Conversa com Clara Rowland e José Bértolo
    • 1956 | 
    • 23 min | 
    • M/12 | Cópia Restaurada
    Yves Demy, Georges Rouquier (narração)
  1. O Belo Indiferente

    de Jacques Demy
    Conversa com Clara Rowland e José Bértolo
    • 1958 | 
    • 29min | 
    • M/12 | Cópia Restaurada
    Jeanne Allard, Angelo Bellini
  1. Ars

    de Jacques Demy
    Conversa com Clara Rowland e José Bértolo
    • 1960 | 
    • 18min | 
    • M/12 | Cópia Restaurada
    Bernard Toublanc-Michel, Jacques Demy (narração)
  1. A Luxúria

    de Jacques Demy
    Conversa com Clara Rowland e José Bértolo
    • 1962 | 
    • 14 min | 
    • M/12 | Cópia Restaurada
    Jean Desailly, Micheline Presle, Laurent Terzieff, Jean-Louis Trintignant
23.01.2025
quinta-feira
13:00
  1. Lola

    de Jacques Demy
    Cópia Digital Restaurada
    • 1961 | 
    • 1h23 | 
    • M/12 | Cópia Restaurada
    Anouk Aimée, Marc Michel, Jacques Harden, Alan Scott